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domingo, 2 de outubro de 2011

Por que publicar?

O que sei é que não estou aqui para me comparar. Eu não poderia me comparar aos anos de experiência de vida e profissão de outros grandes autores. Mas todos começam um dia. Comecei a pensar em não recear a palavra "escritora", porque no dicionário tudo é muito simples: escritor é escritor oras.

es.cri.tor
sm (lat scriptore) 1 O que escreve. 2 Autor de composições de qualquer gênero literário. Col: plêiade (...) [Michaelis]

Porque não publicar? Porque privar a comunicação que os textos tanto anseiam? Por que a vaidade? A vaidade de não publicar. O medo das críticas, das opiniões e reações. Isso me faz lembrar a Semana de Arte Moderna de 1922. Ainda bem que seus participantes não voltaram atrás e nos privaram de suas obras. Lembro-me da primeira vez que li “Serafim Ponte Grande” (Oswald de Andrade, 1933) e fiquei encantada com a ousadia do texto e com a sua criatividade, e achava horrível ter que aguentar meus colegas achando um saco sermos obrigados a ler essa obra para uma prova. Eu me diverti muito. A partir daí comecei a ler James Joyce, Machado de Assis, Clarice Lispector, Jean Genet, e a vontade de escrever que ainda manifestava-se de maneira muito tímida se apoderou de horas e horas em que eu me trancava no quarto. “Infarto Repentino”, “Reflexos”, “Candinho...” entre outros, nasceram nessa época do “colegial”, e eu aguardo até hoje a coragem de deixá-los que falem por si mesmos.

Quando imaginei o livro em minhas mãos, como uma pequena caixa de oportunidades, tentei vislumbrar todos os sorrisos, emoções, descasos, indiferenças, risadas, lembranças, viagens que os textos poderiam proporcionar hoje e daqui mil anos. Uma vez escrito, ele permanecerá. O livro, a palavra, são organismos vivos e criam seus próprios caminhos e relacionamentos. Meu papel vai até aqui. Escrevo.

Os processos individuais de aprendizado e evolução são eternos. Sempre imaginei os livros ou as obras de arte como criações aladas, filhos que soltamos no mundo. Sozinhos, eles seguirão caminhos diferentes, e não escolherão, serão escolhidos. Propor um universo diferente, um novo estilo de escrita e novas provocações são sempre tarefas difíceis, mas ser diferente e ter personalidade também são, e é sempre um risco ser você mesmo. Esse livro é ele mesmo, é todo ele próprio. Mas em coragem, pulou, atravessou a linha.

É preciso muito cuidado com a ignorância e arrogância, mas os verdadeiros arrogantes não tomam conhecimento de que o são e estão pouco ligando. De qualquer forma tudo que é muito fácil é chato, não tem valor, então os chatos são bem-vindos. Os críticos produtivos, com a mente aberta, bem educados e que tenham sensibilidade, com certeza serão ouvidos e levados a sério, e os leitores em busca de companhia que apreciarem Vestígios serão sempre as abelhas e pássaros que levarão o pólen consigo depois de uma leitura e permitirão inspirações diversas, sementes e possibilidades. Os críticos que adoram citar, citar e citar, e que não conseguem abrir a mente para o novo, desses, eu tenho dó.
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"A crítica, por estar atrelada à cultura predominante do momento e à máscara social que oficializa e define sua estética da moda (ou à capacidade média de compreensão social limitada pela mídia massificada de mercado), não poderá nunca entender a surpresa criativa da inovação, que geralmente surge dessa psique (alma em torno de seu estado amoroso) do artista na tentativa de romper a máscara do modismo e do estilo agradável ao consumo." (trecho de avaliação de Vestígios, por José Carlos A. Brito (Brasil, 1947). Poeta e articulista. Autor de livros como O Nascimento do Mundo, Poemas do Amor Quebrado (prêmio pela Academia Internacional Il Convívio da Itália) e Romance de Meiga e Sátiro.


Em uma época de blogs e sites, porque publicar um livro impresso?

O livro impresso persiste em sua existência e, em minha opinião, a qual compartilham outras figuras da literatura e do ramo editorial, o livro impresso não deixará de existir. O próprio formato físico do livro impresso é prático para ser lido e manuseado em um ônibus ou trem, não precisa de bateria nem de energia, ele por si funciona toda vez que é aberto. Há quem aprecie o cheiro, o tato, as diversas possibilidades de edição (capa dura, mole, grande, pequeno, grosso, fino etc.). Sou uma dessas apreciadoras da relação tato e olfato que podemos ter com os objetos, mas principalmente com os livros.

O livro resiste há séculos e compartilha sua existência com as outras tecnologias, além de garantir o acesso aos grupos sociais diversos que podem ou não comprar aparelhos eletrônicos que permitem a leitura de arquivos e e-books.
Gosto da tecnologia, e talvez um dia eu até compre um tablet, eu tenho um blog com alguns contos publicados, mas acredito que o impresso e o digital precisam coexistir. Cada suporte atende a um público específico com necessidades peculiares que não são fixas.

Compartilho meu aprendizado e jornada literária com vocês e agradeço o respeito, o prestígio e por terem aceitado o convite da visita a um universo novo que não pressupõe um novo deus nem uma nova humanidade, mas pontos de vista diversos em uma paisagem tão íntima, feminina e humana. Podem entrar... mas por favor, limpem os pés.

Lygia Canelas

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