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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Processo


          
          Estava por terminar o expediente. O telefone tocou. Uma ocorrência no bairro nobre. Suicídio!?.

            Quando cheguei à cena, o local já estava devidamente isolado e meu parceiro logo passou-me as primeiras informações: “o porteiro disse que ela chegou por volta das 22h, parecia animada, cumprimentou-o e subiu. Disse também que quem a deixou na portaria foi uma amiga de nome..., que estamos verificando”. Entrei no apartamento. Sombrio, mas tudo muito bem organizado e limpo. Fui direto ao quarto. Sob a cama, arrumada em lençóis de cetim, sai de filó, blusa de rendinha, sutiã e calcinha de oncinha, os sapatos de fivela. “Parece que ela estava se preparando para sair”, observei. Sobre o criado mudo um belo anel de ametista, brincos artesanais, um bloco de anotações. “Tudo indica”, continuava meu parceiro, “morte por envenenamento”, indicando-me a lata de inseticida, a taça de champagne.   “O corpo?”, perguntei. “Ali”, apontou-me o banheiro. Pareceu-me uma filial da Avon. Na banheira de hidromassagem, o livro boiava e entre suas paginas o corpo nu. “Ela tinha pés cascudos”, observou meu parceiro. “Inspetor, conseguimos contatar a amiga”, avisou um policial. Ela está subindo. Pedi a meu parceiro que a interrogasse. “A amiga disse”, voltando minutos depois, “que ela estava de namoro com um certo Kafka”.  “Não foi suicídio!” Disse categórico. “Como assim?”, indagou meu parceiro. “Veja as marcas entre as paginas 45 e 46, ela foi violentamente prensada...”.

            ... “Alguém deve ter caluniado Josef k., porque, sem que tenha feito nada de mal, uma manhã foi preso...”