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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

EXERCITE O TEU OLHAR

“Nosso tempo é marcado pelo desaparecimento de todos os referenciais, e, portanto, pela dificuldade de orientarmos no pensamento”.  Adalto Novaes

A Mostra de Referências Cênicas de Suzano, em sua sétima edição, traz-nos um convite instigante: “exercite teu olhar”. E tal convite nos leva a uma reflexão sobre o olhar a partir de uma questão: de que olhar se espera o exercício e com qual fim se espera tal exercício. Sim, porque o olhar é multiforme. Há, por exemplo, o olhar de descrédito, como há o olhar de desdém e mesmo o olhar entorpecido, este olhar que vê as coisas sempre as mesmas. Há o olhar de relance, o olhar técnico, o olhar de desconfiança, o olhar curioso, o olhar de espanto. Há o olhar indignado e o olhar resignado, o olhar perplexo e o olhar encantado. Enfim, há olhares e olhares. Qual olhar, então, se espera seja exercitado? Por se tratar de uma mostra cênica em que se joga com os sentidos e as emoções, o olhar que se espera, mesmo considerando que “cada espectador traz uma situação existencial concreta, uma sensibilidade particular condicionada, uma determinada cultura...”, é um olhar que não dependa apenas da visão dos olhos, mas de uma interação dos sentidos às emoções capaz de conduzir ao movimento do pensar, que não se contenta apenas com a aparência das coisas, mas quer desnudar as coisas. Deste modo o que se propõe é um exercício de insubordinação ao instituído e dogmatizado. Pretende-se, portanto, um exercício provocatório.
Seja os sentidos seja as emoções são movimentos primeiros ao pensar, mas são movimentos que partem de fora; da relação com algo que lhes afeta. Qual é, então, o ponto, ou objeto de onde se propõe a provocação e, então; o exercício do olhar? Deste olhar, que diante do ambíguo: “a arte cênica é fundamentalmente ambígua”, procura conexões com o instituído, o real e o vivido. Isto eu colho de uma fala durante a abertura da distante 3ª Mostra: “O convite ao exercício do olhar o aponta para a cidade. Nossa terceira Mostra quer provocar o interesse pela cidade. É preciso provocar o olhar e excitar nossa percepção e compreensão da cidade”.

 Já há algum tempo escrevi uma carta aos artistas poaenses a este respeito e questionava-lhes sobre o nosso olhar sobre a cidade. Convocava-os a olhar para a cidade e dar-nos o que pensar, pois se não pensarmos a cidade, a cidade será espaço morto, entregue à fúria dos carros, à degradação e à falta de bom senso daqueles que a pretendem administrar. E quando a cidade padece, nós padecemos.

No entanto, parece-me, não temos tempo para olharmos para a cidade, não temos tempo para nos olharmos na Cidade. Falamos da cidade, da micro e da macro, como algo que não nos pertence, porque não a vemos como nossa, não nos vemos CIDADE.  Somos cidadãos, sem sermos com a cidade.

“Santo Agostinho dizia do tempo que ele é perfeitamente familiar a cada um, mas que nenhum de nós o pode explicar aos outros”. E Merleau- Ponty diz que “o mundo é o que vemos e que, contudo, precisamos aprender a vê-lo.O mesmo é preciso que se diga da cidade. Todos os dias acordo, abro os olhos e após uma serie de ritos, junto papéis numa pasta, passo a chave na porta e , ao abri-la, deparo-me ante a cidade. Vejo-a e ela me parece habitual, familiar, sempre a mesma.   E o que vejo é o mundo ante meus olhos, a cidade detém meu olhar. Suas casas, seus caminhos, suas portas, seus rios, tudo me atraem e dizem de mim. “No horizonte de todas estas visões ou quase-visões está o mundo que habito, o mundo natural e o mundo histórico”, como uma extensão de meu copo. E talvez por isso, a dificuldade em poder explicar a cidade. A cidade é extensão de mim e mais, é uma mentalidade, um estado de espírito, um complexo de idéias, atitudes, qualidades e sentimentos coletivos. É preciso, então, pensar a cidade pensando-nos cidade, compreendendo-nos nela, não como espectadores, mas como atores que a concretizam.

Provocar o olhar e exercita-lo a partir da cidade é mover o pensamento para além do habitual, do cotidiano, do senso comum; é movê-lo deste eu individualizado em que nos tornamos para assumirmos o que de fato somos: um com outros num espaço comum. Somente um olhar a este nível de profundidade nos dá pleno titulo de cidadão.

 É preciso olhar-nos cidade. E olhar-se Cidade envolve uma mudança de postura, é não permanecer indiferente a sua sorte, deixando-a a mercê de especuladores e administradores que a pensam apenas como palanque promocional.

Aqui o papel da arte, do artista. O artista, cômico ou trágico, concreto ou abstrato, realista ou romântico, é um provocador (de pró- vocare – chamar para fora; excitar; estimular). E a arte, dissimulando, nos faz ver as coisas, sem nos apresentá-las. Ela nos provoca, nos estimula a superar sua ambigüidade. Instigando nossa imaginação e nossa inteligência, instaura novas possibilidades e novas exigências interpretativas. Com seu modo de proceder e fazer o artista aguça nossa sensibilidade, remete-nos às nossas incertezas e nos exige novas posturas. Ao vincular-nos à cidade, espaço de convivência, onde me percebo membro de uma comunidade orgânica, olhando-a ativamente, constato que mantemos uma relação singular e não posso assisti-la como mero espectador.

Este, portanto, parece-me ser o caminho a que nos conduz a Mostra de Referências Cênicas de Suzano: Provocar o olhar a partir da cidade, para olhando-a, perceber cidade e humano não se sobrepondo, mas fundindo-se um ao outro, ressonando em seus aspectos de diversidade e intensidade um no outro, realidades indissociáveis, tornando-me responsável por ela, tornando-a não apenas minha, mas algo de mim.

INSIGHT

O copo, a faca, a cadeira, eu sentado olhando pessoas passarem, irem, virem... A imagem assoma à mente: “Ele larga o copo, pega a faca, levanta bruscamente da cadeira, avança... o corpo caído agoniza...” Dou um nome a “ele”? Deixo “ele” mesmo? O mesmo acontece ante a televisão. O jogo, o locutor, o comentarista, a cortina que estremece com a corrente de ar. A imagem que se forma não tem a ver com o contexto. É uma recordação distante, sem motivo pra ser naquele momento. E o que se assoma em seguida não acompanha a memória: “Janaina, morena de corpo esguio, seios pequenos, firmes, lábios carnudos está no banho e João a observa e se masturba. João sente a pele úmida e quente de Janaina à sua... Janaina desconfia, corre a mão suavemente pelo corpo, massageia o clitóris... João sente penetrando-a...” O locutor preenche o ar com o grito de gol, volto ao jogo, ao locutor ao comentarista...  

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O DEPILADOR

Carmem contou que Ayrton Senna começou a ter aulas de música com o espírito de John Lennon. “O Ayrton foi se especializando, mas o John não dava aulas só para ele. E uma das primeiras músicas que ele fez foi para Xuxa”*.

Quando criança eu li a história de um bandido que roubava calcinhas. Ele abordava suas vitimas, as imobilizava e roubava-lhes a calcinha. O crime só veio às paginas dos jornais, porque uma das vitimas, esperando mais que a simples perca da peça sentiu-se frustrada. Ela nutria certas fantasias e quando abordada pelo bandido, acreditou que estava prestes a realizá-las. Mas quando percebeu que o sujeito, após subtrair-lhe a calcinha saiu em disparada, sem nem mesmo tocá-la, se indignou, subindo-lhe um furor jamais sentido. “Deu pena”, disse o delegado, “do meliante”... Porque estou a lembrar-me desta banalidade? É que o sujeito em seu depoimento dizia agir por intersecção de um espírito. Eu nunca acreditei nestas coisas e sempre que alguém me dizia ter composto algo ou realizado algo por intercessão de algum espírito eu lembrava-me deste fato. Um outro fato é o Rubião, um traquineiro que morava próximo à minha casa. Tinhamos muito medo de Rubião, que aproveitava para tirar-nos dinheiro e merenda. Certa feita, chamada na escola, a mãe disse que Rubião era o que era, não por ele, mas devido ao Zé Pilintra que o incorporava. Eu sei que eu tinha medo de Rubião e o evitava. Um dia o amarraram no poste e deram uma surra nele. Os irmãos Lee aproveitaram a visita de uns primos. A mãe foi reclamar. “Não foi no Rubião que batemos não, tia. Foi no Zé Pilantra”. O certo é que Rubião e a irmã dos Lee formam hoje um belo casal. Então eu achava graça destas histórias de intercessão, possessão, psicografia e coisas do gênero. E quando o padre disse que não era ele, mas o Cristo que ouvia minha confissão, eu ri e disse-lhe: “padre, eu confesso: Sou o Jack Estripador”. Eu não acreditava nestas coisas. Repito, não acreditava. Mas, nada melhor que morrer para que as coisas se esclareçam... Coitado deste sujeito, como ele irá convencer os seus que quem o possui é um espírito que teve aulas com Jack, o Depilador. Com o outro já não tinha mais vaga, e a fila de espera chega ao próximo século...


A CASA DA ESCRITORA

A casa da escritora é aquela cujas luzes se acendem às 3h às 4h às 5h ou às 6 da manhã quando as ideias emergem dos sonhos...

A casa da escritora tem cheirinho de café...

A casa da escritora tem cortinas que se pode ajeitar de muitas formas, com forro, sem forro, aberta ou fechada para compor diferentes tons de sombra que submergem a sala, o quarto ou o escritório em cenários propícios...

A casa da escritora tem a louça por lavar...

Tem a roupa por passar,
Tem a cama por fazer.

Tem uma mesa atulhada de papéis, tem barulho de ópera, de máquina de escrever, de sininhos de micro-ondas que aquecem a água para o chá;

Tem barulho de dedinhos em teclados macios, vozes de cantores e cantoras, tem jornal no banheiro, caça-palavras, dicionários de sinônimos.

Tem vinho, lenço de papel, tapete e luminária, tem estantes de histórias enfileiradas, empoeiradas e carregadas.

Tem um caminho de Swann perdido sem ser lido até o fim, tem Clarice sentada à sombra, tem Luiza Bombal sonambulando até a janela com longas tranças negras... Tem Clarissa correndo no jardim, tem uma televisão desligada, apoio para o pires com misto quente.

A casa da escritora tem sempre um personagem travesso, perdido entre o banheiro e a cozinha, escondido no porão, que fala palavrão, que mata o dragão, que salva a mocinha ou que se mata no fim.

A casa da escritora sempre tem um arsenal de xícaras perdidas e com açúcar sobrando no fundinho...

A casa da escritora é um charme a parte.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A CENA

Apenas vi a cena do crime, lembrei-me do Fuinha, menino de quem mamãe cuidava. Ele gostava de recortar imagens de revistas e colocar as partes uma ao lado da outra, mas: a perna esquerda no lugar do braço direito, o braço direito no lugar da perna esquerda e assim em diante. Geralmente a cabeça ele a colocava no lugar do pênis quando se tratava de figura masculina. Quando se tratava de mulher a cabeça desaparecia. Enquanto ele fazia isto com figuras de revistas, achavamos graça. Quando, porém ele começou a esquatejar as bonecas de Carolyne, a confusão se armou. Certa vez Carolyne chegou a cortar-lhe o dedo, a ponto de quase arranca-lo fora. Ele depois disto, ficou um bom tempo sem aparecer, mas como a mãe precisava trabalhar e não conseguia niguém para ficar com ele, mamãe o assumiu novamente. “Se ele tocar em minhas bonecas eu o retalho”, gritou Carolyne, assim que a mãe o deixou no portão... A coisas correram tranquilo durante um bom tempo, até que o gato da vizinha apareceu esquartejado... Ele e a família tiveram que sumir às pressas. O vizinho prometera morte... Fazem já trinta anos que tudo isto ocorreu, mas a cena do crime trouxe-me à mente Fuinha. Diante de mim estava a sua assinatura. O corpo de mulher esquartejado com os membros em posição contraria e ausente de cabeça; eu tinha plena certeza de ser ele o autor de tal brutalidade... Liguei para mamãe para saber se ela recordava o seu nome e se tinha alguma informação a seu respeito, uma vez que a mãe e mamãe eram muito próximas. Foi então mamãe quem disse-me de sua troca de sexo e que quem o tinha encontrado recentemente fora Carolyne...
Na delegacia Carolyne explicou que o gato tinha sido apenas um teste... Quando perguntei-lhe da cabeça, ela me levou até a boneca: “Eu havia avisado!”

sábado, 15 de outubro de 2011

Não tenho um projeto para meus filhos, quero ensiná-los a se projetarem.

No futuro vou ensinar a meus filhos a história de sua mãe. Será uma história, a princípio, mítica: a mãe será, então, uma deusa ou heroína, e o mundo seu mundo sagrado. Vou desenhar para meus filhos imagens de mistério e encanto. À medida que eles forem entrando na idade da razão vou lhes ensinando a mãe com os critérios de humanidade, para que eles a entendam não apenas mulher. Não os apressarei de uma passagem à outra. Vou contar-lhes também a história dos avôs: serão totens, anciões sagrados, homens sábios. Ensinar-lhes-ei a dor e a morte como caminho sagrado, porque é mistério.  Vou ensinar a meus filhos os tios e tias. Então, vou contar-lhes a história destes grandes homens e mulheres: Geraldo, Luciene, Marco A Senna, Lidiane, Cristine Dutra, Zulene, Marco Maida, Lygia, Elvis... Marcos de humanidade, que muito contribuíram para a formação de meu espírito e para uma cultura que ainda virá. Quero que meus filhos saibam deles como heróis e como pessoas encarnadas de ideais eternos. São “Quixotes” e “Franciscos”, “Zumbis de morte Severina”, como diz o poema. São homens e mulheres que batalham, lutam, que quero ensinar para meus filhos. Quero ensinar-lhes o que há de melhor, para que em seu futuro eles tenham de onde partir para suas escolhas mais fundamentais. No futuro vou ensinar para meus filhos o voou que compete só ao homem dar. Vou ensinar a meus filhos, na idade certa, que é preciso torna-se adulto e amadurecer e caminhar resoluto, fronte erguida, mas, serena. Quero que meus filhos vençam não com armas e punhos cerrados, mas com as mãos futuras e solidarias. No futuro quero que meus filhos se projetem.
http://www.youtube.com/watch?v=YtwfQk3nO9o

domingo, 9 de outubro de 2011

A Cultura em Suzano na ùltima Decada

Olá Amigos!

Dia 26 de outubro eu, Marco Maida, Lygia Canelas e Helcio Lopes, estaremos da Jornada Unisuz, para falar de Cultura, abordando "A Cultura em Suzano na última Decada". O encontro será as 19h. Procurar a sala 35B, piso 1.

http://www.jornadaunisuz.com.br/Detalhes-137.aspx

sábado, 8 de outubro de 2011

O VALOR DE UM PRESENTE

Meu nome é Almerinda de Souza Lemos, mas ninguém me conhece por este nome. Eu mesmo dou-me a esquecer chamar Almerinda. As pessoas conhecem-me por dona Doca. Não me perguntem o porquê, sei apenas que desde sempre as pessoas, e eu mesma, chamam-me Doca. Teve até um fato engraçado, porque um moço parou-me na rua, e eu ia apressada, e perguntou-me, dona posso fazer-te algumas perguntas e mandou a primeira antes mesmo que eu assentisse: “qual teu nome?” Doca, respondi. “Doca do que, dona?” Continuou ele. É Almerinda, tentei corrigir. Mas ele já vinha emendando um comentário: “diferente o nome da senhora!”, e partia para a terceira, quarta e quinta perguntas uma seguida da outra, que quase não sabia o que responder. E lá se foi o meu nome naquela pesquisa como Doca Almerinda. Então é assim, não adianta procurar-me por meu nome de batismo. Sou Doca e pronto. Tenho 60 anos, tenho quatro filhos, um junto a Deus, que nos deixou ainda não tinha pecado não. Os outros estão aí bem formados, pessoas honestas como sempre fizemos questão de educá-los. São dois moços, um mecânico e outro eletricista, e uma menina, que este ano Deus querendo termina a faculdade de psicologia. Demos um duro danado, mas ver os fios encaminhados é uma benção de Deus.  Tenho também oito netos e, logo logo, uma bisneta: Ana Carolina.
            De minha infância guardo muitas lembranças, mas a que mais me agrada recordar é a de minha primeira boneca.
            Nasci de uma família humilde, no interior de São Paulo, Cruzeiro. Meus pais eram sitiantes e além de mim tinham outros cinco filhos, três homens e duas mulheres. Eu era a terceira na ordem de nascimento, a primeira entre as meninas.  O sitio não era nosso não, nosso pai arrendava um pedacinho de lavoura nas terras de um italiano de São Paulo, que vinha uma vez ou outra passar uns dias na casa sede. Nós morávamos numa casinha pau a pique como outros colonos. Eram três cômodos de chão batido e um banheiro externo. Pois bem, não tínhamos muitos brinquedos não, e os poucos que tínhamos eram quase todos frutos de nossa imaginação. Assim muitas de minhas bonecas eram de sabugo de milho ou retalho torcido e amarrado com cipó. Mas um tio, irmão de mamãe, veio de São Paulo nos visitar. Era por época do natal. E ele então trouxe lá alguns embrulhos em papel pardo parecido com estes de cimento e amarrado com um cordão grosso de algodão. Foi uma festa aquele dia. Eram presentes que ele mesmo havia confeccionado. Para meus irmãos carrinhos de madeira sem muito acabamento e para mim e as meninas umas bonecas, duas de pano, parecidas com umas da venda do seu Augusto e que as meninas com um pouco mais de condição tinham. Uma outra feita, como ele dizia, de papel machê, ensinando como fazer: “você pega uns pedacinhos de papel deixa dormir dentro d’água e depois acrescenta um pouco de farinha e ferve um pouco... etc e tal”.
Pois coube a mim tal boneca. E a principio fiquei fura da vida. Era uma boneca toda assimétrica, um rosto rústico, parecendo maracujá, a perna direita mais longa, o braço esquerdo mais curto, os olhos opacos e um cabelo de lã num amarelo gema que nunca vi. Era um horror de boneca. E durante muito tempo, ficou lá, jogada num canto, preterida. Preferia brincar com meus sabugos e torcer meus retalhos e amarrá-los com cipó. Aos pouco, porém, por curiosidade, aproximava-me desta boneca. E por curiosidade comecei a amassar papel com farinha e a moldar, eu mesma, minhas bonecas. E as primeiras eram tão horríveis quanto a minha. Só compreendi a sua beleza, quando trinta anos depois, descobri entre as coisas de minha irmã caçula minha primeira boneca de papel machê. Perguntei-lhe porque ainda guardava aquilo. Ela respondeu-me: “porque foi um teu presente e me foi dado de coração, pois era tudo o que você podia me dar”. Naquele mesmo dia fui visitar meu tio e agradecer-lhe. Quase quarenta anos depois eu tinha aprendido o valor de um presente.


Amoris Mater

Estávamos na varanda e riamos das piadas do Arthuro. Minha irmã chegou com Lidiane nossa prima e Aretma, uma amiga de Lidiane. Foi atração a primeira vista. Enquanto todos se interessavam por seu nome, minha atenção era por toda ela.  Fiquei a noite “pagando pau” pra aquela mulher de sorriso tímido e olhar receoso. Aproveitei quando ela perguntou pelo banheiro e com a desculpa de ir buscar outra cerveja me propus indicar-lhe o caminho. O pessoal, que já havia sacado meu interesse, fez alguns gracejos. Mas Logo após ter ido ao banheiro, ela se despediu.  A zoação com minha pessoa, então, rolou o resto da noite... Aretma, no, entanto, saia de minha cabeça e, por intermédio de Lidiane, eu a contatei e marcamos um encontro. Deste encontro em diante, a diferença de idade entre nós não foi empecilho para criarmos uma afinidade e intimidade de dar inveja a qualquer casal. Mulher madura, Aretma tem pele morena como a minha, olhos claros, nariz miúdo e lábios finos; um belo corpo: seios médios, coxas bem torneadas, uma bela bunda...  Eu mais jovem, sou baixa, e não me acho bonita de corpo: meus seios e bumba são muito grandes. Podem agradar aos homens, mas a mim não... Na cama funcionamos muito bem e nossas fantasias não têm limites. A habilidade de Aretma com certos jogos é de dar inveja, um homem não me daria maior prazer. Mas, embora nossa relação seja intensamente compartilhada, pouco sei sobre a vida de Aretma, que evita falar de sua infância e adolescência. Para ela o passado não existe. Além disto, sua personalidade altera quando lhe falo em adotarmos uma criança. Aretma se perde dentro do próprio olhar e fica semanas assim... Queria entender o porquê, mas é inútil qualquer tentativa. Aretma se fechava a sete chaves e insistir no assunto só a torna mais reclusa em si mesma. O jeito é dar tempo ao tempo. Para mim, Aretma é minha razão de ser, perdê-la é perder qualquer motivação..., não saberia viver sem ela...  Certa vez, aqui começa meu conflito, enquanto Aretma tomava banho, fuçando em uma gaveta encontrei uma pasta com alguns recortes de jornal. Tinham mais ou menos a minha idade. Quando perguntei a Aretma o porquê daqueles recortes, ela subiu pelas paredes de raiva e só não me matou por um triz... Ficamos semanas sem nos falar. Foram os dias mais tenebrosos de minha vida, cheguei a tomar uma dose excessiva de um remédio... Passada a tormenta, sem tocarmos no assunto, reatamos e eu me comprometi a não mais mexer em seu passado... No entanto, mamãe, que nunca aprovou minha opção sexual, há algumas semanas, faleceu, e minha irmã, organizando suas coisas, encontrou uma espécie de dossiê a meu respeito. Quando, abri a pasta que minha irmã me entregou, o choque foi imediato. Eram os mesmo recortes de jornal que havia encontrado na casa de Aretma.    

“Recém nascida é encontrada em lixeira”

“Pedreiro resgata recém nascida de Lixeira”

“Recém nascida em lixeira deve ficar com família do pedreiro que a encontrou”

“Polícia não tem pistas sobre mãe de recém nascida em lixeira”

Eu já não sei mais viver sem Aretma e se ela não sai deste coma: Ela não terá coragem de me abandonar novamente, ela não fará isto comigo. Eu não sei viver sem Aretma... Eu não sei viver sem Aretma... Eu não sei viver sem Aretma... E se ela não sai deste coma? ...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Doctor sapientiae

Recentemente, entrei num bate papo sobre a importância do uso das novas tecnologias na produção e acessso ao conhecimento. Na verdade a discusão deveria ser outra, mas descambou nisto, só porque eu afirmei que o Face book é como um botequim. A única diferença é que os amigos não precisam me carregar pra casa (a esposa agradece), nem aguentar meus arrobos de bravura depois do terceiro copo. Pensando bem depois, eu acredito que o Face substitui bem a psicanalize. Nele podemos falar tudo: “estou no metrô!”; “Vou tomar banho!”; “Meu cachorro está latindo!” Ou apensas rir: “rsrsrsrsrsr”, “kkkkk...”. Fazemos isto espontaneamente. Não esperamos resposta alguma. E eu gosto disto, é isto que me torna um Facedependente. Fora isto eu acredito que as novas tecnologias e principalmente o acesso à internet sejam ferramentas fundamentais em nossos dias para o acesso e produção de conhecimento. E como conhecimento é tudo, parodiando Foucalt: é poder. Resolvi, na manhã de hoje, ampliar meus saberes.
Logo de cara fico sabendo que em “Fina Estampa”, o marido  de Susana Vieira faz magica para redecorar casa de tia Iris. Veio-me a primeira Dúvida: Não foi o marido de Susana Vieira quem se matou recentemente? Resolvi deixar esta lacuna em meu saber, a compretaria posteriormente, pois outra informação atirou-me a atenção. Ela diz que Chael Sonnen ( quem é este? Pergunto-me), é odiado pelos brasileiros, a ponto de ter vetada sua vinda ao país para o UFC Rio, em agosto. UFC, do que se trata? Anotei as questões e corro a ler que: Allison Stokke uma atleta de salto com vara, norte americana, viu sua vida transformar-se devido a uma sua foto que circulou em 2007 pela internet. Foi um amigo que a avisou que a foto em questão se espalhara pelos computadores norte-americanos. Taí uma das belas façanhas da tecnologia.
Ainda no campo dos esportes, vocês sabiam que a comunidade da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro (RJ), foi confirmada como sede do Jungle Fight 33, o maior evento de MMA da América Latina. Puxa vida, quanta coisa eu ignoro MMA, o que é isto?
Mas, continuando meu percurso formativo, dedico-me ao cinema e fico sabendo que o Festival do Rio terá cerca de 350 filmes divididos em 18 mostras, entre eles “Espiral”, de Paulo Bons. “Espiral é um Filme-Cabeça (o que isto significa?) e narra, em um mise-en-scène (devo consultar o dicionário) em tempo real o encontro de sete desconhecidos em uma casa que ninguém sabe de quem é...”
Ainda na sessão cinema, na pagina que mais gosto, leio que: “A indústria pornô nunca esteve tão Nerd!” É que uma produtora erótica promete fazer o primeiro filme pornô 100% nerd. Fico imaginando o que deva ser um filme pornô Nerd. Mas já serve como resposta para quando te perguntarem: “o que você tanto faz na internet?” “Amplio meus conhecimentos, baixando pornô 100% nerd.”
Para não ficar só em coisas muito profundas, passo os olhos pelas paginas de ciência, e leio sobre os cientistas ganhadores do Nobel. Depois que “Cientistas conseguiram, através do uso de um scanner e um computador, “ler” imagens do cérebro de três pessoas que assistiram a um filme previamente. O procedimento conseguiu reconstruir imagens borradas que remetem às originais vistas no filme”. Os pesquisadores esperam tornar, em breve, tais imagens nítidas. Poderemos, enfim, gravar nossos sonhos e assisti-los na manhã seguinte (tirem as crianças da sala). Leio também que “Uma substância química encontrada no vinho tinto pode parar o câncer de mama, de acordo com uma nova pesquisa. Os testes em laboratório mostraram que o resveratrol, encontrado na casca da uva, poderia impedir o desenvolvimento da doença, bloqueando os efeitos do hormônio estrógeno”.
Meu percurso formativo acaba com uma sessão de filmes no Youtube: um cachorro, surfando, um sujeito gordo de esborrachando em uma piscina plástica; uma menina se esborrachando ao imitar a Byonce; um bebê que não sabe se chora ou ri, um bando de bêbados querendo um dá para o outro, mas fazendo proveitosos discursos em um reality show...
Bom, depois de tanto conhecimento adquirido, acho que posso permitir a meu compadre chamar-me Doctor sapientiae.
Tudo isto deu fome. Vejamos o que nos sugere as páginas de culinária.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Όνειρο (Oneiro)

... Ela apareceu-me com feições de criança, mas eu sabia ser uma jovem por quem nutria certo interesse. Quis consultar as horas. Não achei o despertador. Talvez estivesse caído embaixo da cama. Às vezes acontecia. Fechei os olhos, tentei retomar o sono. Uma destas canções que tanto atraem os jovens preencheu o quarto. Ela desnudava-se ao seu ritmo. Toda nua, abriu a janela do quarto, e uma brisa fria o invadiu. Aproximou-se de mim, imóvel em minha cama, eu evitava olhar para seu corpo. “Eu adoro sexo oral e você?”, selando um beijo em meus lábios. De imediato queimei de volúpia. Ao mesmo tempo, certa repugnância me imobilizava. Era uma criança. Como eu não me movesse ela subiu sobre mim, abrindo as pernas sobre meu rosto: “ser chupada me leva às nuvens e tu o fazes tão bem”. O seu cheiro era inebriante, estava prestes a ceder... O despertador logo me trouxe a realidade. Tomei um banho, o café, preparava-me para sair: “Não vai à escola hoje não”. Virei em direção ao quarto: “Eu não sabia que meu irmão transava tão bem”... Já não tinha mais certeza alguma... Talvez eu ainda durma.


domingo, 2 de outubro de 2011

Por que publicar?

O que sei é que não estou aqui para me comparar. Eu não poderia me comparar aos anos de experiência de vida e profissão de outros grandes autores. Mas todos começam um dia. Comecei a pensar em não recear a palavra "escritora", porque no dicionário tudo é muito simples: escritor é escritor oras.

es.cri.tor
sm (lat scriptore) 1 O que escreve. 2 Autor de composições de qualquer gênero literário. Col: plêiade (...) [Michaelis]

Porque não publicar? Porque privar a comunicação que os textos tanto anseiam? Por que a vaidade? A vaidade de não publicar. O medo das críticas, das opiniões e reações. Isso me faz lembrar a Semana de Arte Moderna de 1922. Ainda bem que seus participantes não voltaram atrás e nos privaram de suas obras. Lembro-me da primeira vez que li “Serafim Ponte Grande” (Oswald de Andrade, 1933) e fiquei encantada com a ousadia do texto e com a sua criatividade, e achava horrível ter que aguentar meus colegas achando um saco sermos obrigados a ler essa obra para uma prova. Eu me diverti muito. A partir daí comecei a ler James Joyce, Machado de Assis, Clarice Lispector, Jean Genet, e a vontade de escrever que ainda manifestava-se de maneira muito tímida se apoderou de horas e horas em que eu me trancava no quarto. “Infarto Repentino”, “Reflexos”, “Candinho...” entre outros, nasceram nessa época do “colegial”, e eu aguardo até hoje a coragem de deixá-los que falem por si mesmos.

Quando imaginei o livro em minhas mãos, como uma pequena caixa de oportunidades, tentei vislumbrar todos os sorrisos, emoções, descasos, indiferenças, risadas, lembranças, viagens que os textos poderiam proporcionar hoje e daqui mil anos. Uma vez escrito, ele permanecerá. O livro, a palavra, são organismos vivos e criam seus próprios caminhos e relacionamentos. Meu papel vai até aqui. Escrevo.

Os processos individuais de aprendizado e evolução são eternos. Sempre imaginei os livros ou as obras de arte como criações aladas, filhos que soltamos no mundo. Sozinhos, eles seguirão caminhos diferentes, e não escolherão, serão escolhidos. Propor um universo diferente, um novo estilo de escrita e novas provocações são sempre tarefas difíceis, mas ser diferente e ter personalidade também são, e é sempre um risco ser você mesmo. Esse livro é ele mesmo, é todo ele próprio. Mas em coragem, pulou, atravessou a linha.

É preciso muito cuidado com a ignorância e arrogância, mas os verdadeiros arrogantes não tomam conhecimento de que o são e estão pouco ligando. De qualquer forma tudo que é muito fácil é chato, não tem valor, então os chatos são bem-vindos. Os críticos produtivos, com a mente aberta, bem educados e que tenham sensibilidade, com certeza serão ouvidos e levados a sério, e os leitores em busca de companhia que apreciarem Vestígios serão sempre as abelhas e pássaros que levarão o pólen consigo depois de uma leitura e permitirão inspirações diversas, sementes e possibilidades. Os críticos que adoram citar, citar e citar, e que não conseguem abrir a mente para o novo, desses, eu tenho dó.
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"A crítica, por estar atrelada à cultura predominante do momento e à máscara social que oficializa e define sua estética da moda (ou à capacidade média de compreensão social limitada pela mídia massificada de mercado), não poderá nunca entender a surpresa criativa da inovação, que geralmente surge dessa psique (alma em torno de seu estado amoroso) do artista na tentativa de romper a máscara do modismo e do estilo agradável ao consumo." (trecho de avaliação de Vestígios, por José Carlos A. Brito (Brasil, 1947). Poeta e articulista. Autor de livros como O Nascimento do Mundo, Poemas do Amor Quebrado (prêmio pela Academia Internacional Il Convívio da Itália) e Romance de Meiga e Sátiro.


Em uma época de blogs e sites, porque publicar um livro impresso?

O livro impresso persiste em sua existência e, em minha opinião, a qual compartilham outras figuras da literatura e do ramo editorial, o livro impresso não deixará de existir. O próprio formato físico do livro impresso é prático para ser lido e manuseado em um ônibus ou trem, não precisa de bateria nem de energia, ele por si funciona toda vez que é aberto. Há quem aprecie o cheiro, o tato, as diversas possibilidades de edição (capa dura, mole, grande, pequeno, grosso, fino etc.). Sou uma dessas apreciadoras da relação tato e olfato que podemos ter com os objetos, mas principalmente com os livros.

O livro resiste há séculos e compartilha sua existência com as outras tecnologias, além de garantir o acesso aos grupos sociais diversos que podem ou não comprar aparelhos eletrônicos que permitem a leitura de arquivos e e-books.
Gosto da tecnologia, e talvez um dia eu até compre um tablet, eu tenho um blog com alguns contos publicados, mas acredito que o impresso e o digital precisam coexistir. Cada suporte atende a um público específico com necessidades peculiares que não são fixas.

Compartilho meu aprendizado e jornada literária com vocês e agradeço o respeito, o prestígio e por terem aceitado o convite da visita a um universo novo que não pressupõe um novo deus nem uma nova humanidade, mas pontos de vista diversos em uma paisagem tão íntima, feminina e humana. Podem entrar... mas por favor, limpem os pés.

Lygia Canelas

NOCTAMBULO

O congestionamento me fez perder o trem das 19h. O próximo sairia apenas às 22h30min. Resolvi fazer um lanche. Mas saindo da estação em busca de uma lanchonete, as coisas pareceram girar de ponta cabeça e assumirem outras formas, deixando-me confuso. Estranhei o meu arredor, caminhava sem saber ao certo o que procurava. Avistei um banco de praça e vi-me sentado nele. Via-me como num espelho folheando o jornal. Uma moça aproximou, pediu licença, sentou-se a meu lado, tirou da bolsa um livro.

- Como que o senhor gosta?

Eu a podia ouvir como se estivesse falando em mim

- Como que o senhor gosta?

-Desculpe-me! Não entendi!

Era como se eu estivesse diante de uma encenação, ocorrendo, ao mesmo tempo dentro de mim. A pantomima estava em mim.

- O senhor gosta dela raspada?

- Dela o quê? Do que você está falando?

- A minha irmã gosta dela toda raspada. Ela detesta pelo. Ela diz que é mais higiênico... Eu não, eu gosto de deixar um tufozinho de pelos, acho mais charmoso.

- O senhor, como o senhor gosta?

Entrei em um outro mundo. Como se uma outra cortina se abrisse... Minha mãe pegando a bacia com água, a esponja o sabão, a navalha, o espelhinho. Liga a vitrola, se desnuda: “Eu detesto pelos, principalmente aqui na virilha...” “Eu me sinto mais limpa assim”. Depois, passava horas mergulhada na banheira. “Filhinho, mamãe tem que sair, mas volta logo, prometo!” Um dia não voltou. Seu corpo foi encontrado, num beco escuro, sujo... Nunca me contaram. Descobri por acaso, folheando jornais velhos na biblioteca...

- O senhor quer ver? Eu mostro!

- O quê?

- O beco! Eu mostro! O senhor quer ver?

- Eu preciso partir! Você tem horas?

- Olha põe a mão aqui! O senhor sente os pelinhos? O senhor quer ver?

- Veja filhinho, como é mais bonita assim carequinha...

Minha cabeça girava, girava, girava...

- Que horas são! Que horas são! Eu preciso embarcar no próximo trem...


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“Policia encontrou na noite de ontem mais uma vítima do bandido da raspadinha, o corpo estava num beco próximo à Estação Central” (Matéria completa na pagina 6 do caderno policial).

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- Bom dia Pe Aldoberto! Como o Senhor Passou a noite!

- Bom dia Frei Guttem! Tenho a sensação de não ter dormido por nada... Penso ter sonhado com minha mãe. Nos últimos meses... Isto me tem sido recorrente...

sábado, 1 de outubro de 2011

VESTÍGIOS

Lygia Canelas, escritora suzanense lança, ao fim do mês, VESTÍGIOS, livro de contos e poesias, Lygia escreve:"É difícil, para uma mulher de cabelos longos, não deixar nenhum fio de cabelo cair por onde ela passa. Sempre ficam vestígios”. Mas os vestígios não são exclusividade das mulheres de cabelos longos. Todo artista ou escritor deixa pistas de si em sua obra... As experiências misturam-se aos personagens, e todo personagem é pista para entender o ser humano. Somos indivíduos, tão peculiares, no entanto há vestígios que todos nós deixamos pelo caminho, pois somos humanos..." Para o escritor Helcio Lopes, que também lança em outubro seu livro DESNUDO,"Ler VESTÍGIOS é resgatar o sentido etimológico desta palavra, que vem do latim vestigium, propriamente, a sola do pé. Percorremos (sentindo) as trilhas que levam e elevam a menina à mulher, as dúvidas cotidianas às indagações sobre Deus, a vida e a morte. Mas também há os caminhos descendentes, que transcendem dos insistentes caminhos transitórios, ás vezes quase permanentes. Nesse livro trilharemos os caminhos da alma criadora feminina, com suas eternas peculiaridades: a efemeridade, a vaidade, a complexidade e – acima de tudo – a sentida, vivida e intensa originalidade". O lançamento ocorre dia 29 de outubro, às 19h no Centro Cultural Carlos Moriconi, Rua Benjamin Constant, 682 - Centro - Suzano/SP.

‎"Colchões Infláveis "

Somos todos nós,
Fazemos a festa,
Alegramos a moçada,
E nos dão um tiro na testa,
Saltam, pulam,
Praticam a algazarra,
E no fim, só resta à sujeira...
Tomara que as engula!

Vamos morrer sem perdão
E crer em Deus,
Gatos, lutando contra ferozes cães
Que mal se importam com os seus...

Quem dirá contigo?
Eu quero a sorte de viver,
E se isso não acontecer,
Que eu morra então,
Ao menos em um abrigo...

Somos Colchões de ar,
Quase auto-Infláveis,
Sem medo do rancor,
Nem dos sonhos incontáveis...!