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terça-feira, 18 de junho de 2013

CARTA DE TOMÉ AO POVO BRASILEIRO


 
Nas controvérsias sobre o achamento de nossas terras, há os que defenda que antes dos portugueses outros navegantes já haviam aportado Tupinambá. Leopoldo, fantasma de família, que diz ter sido conselheiro de Pedro II, disse-me ter documentos que comprovam que já no primeiro século um discípulo de Cristo por estas terras andara, mas como não falava a língua nativa, também desconhecida do Espirito Santo, deixou uma carta escrita para a posteridade e foi evangelizar a Índia. Segundo Leopoldo, a dita carta, encontrada por um Jesuíta em uma de suas Reduções, foi enviada a Portugal, mas se perdera no caminho... Ontem, enquanto preparava-me para a manifestação, e já pensando como me arrastaria aos lábios de Jandhiele, Leopoldo, com seu tradicional método de me atrapalhar em minhas conquistas, apareceu-me com um manuscrito esfacelando-se todo. “Eis meu caro, eis a carta do comentado evangelizador... Cuidado, cuidado que é uma relíquia, e custou-me uma descida aos porões de uma embarcação naufragada...  Custei a encontrar um marujo que me soubesse indicar a embarcação correta, pois poucos sabiam deste documento, enviado sob sigilo... Mas tive a sorte de, no memorável réquiem a Anchieta, resvelar-me no tal jesuíta que o enviou à corte”. Leopoldo falava com tanta empolgação e eu preocupado em não me atrasar, porque Jandhiele exigia pontualidade, não conseguia acompanha-lo. “não te preocupes, não te preocupes, meu amigo, o Judeu errante, o traduziu. Queria apenas mostrar-te o original. Veja é uma preciosidade de documento... Deixo-te a tradução, e parto imediatamente, o Magnânimo está às voltas com a Confederação Argentina, e precisa de meus préstimos.” E, advertindo-me: “Não vai rolar! É assim que vocês dizem hoje? Não vai rolar, meu caro! Não vai rolar!”, sumiu em gargalhadas.  É próprio do Leopoldo estas tiradas. A carta que ele me deixou está aqui em algum lugar, achando-a eu a leio. Odeio suas advertências, odeio!  

 

domingo, 16 de junho de 2013

O MONGO

Conversando ontem com o companheiro Milton Bueno saltou-me a seguinte História

 

A maior atração do parque era o incrível homem Mongo. A fila para ver o espetáculo da transformação do pacato Jrmir em uma fera, não tinha fim. Um cartaz enorme à entrada da tenda do Mongo advertia cardíacos e congêneres da não indicação médica para o gênero de diversão. Era vetado também para crianças e mulheres grávidas. Eu aproveitei o descuido do segurança, que espichou os olhos para o decote da morena, e a foi acompanhando com o alhar. Entrei de surdina. Por isso não tive direito à minha porção de vinagre.  A tenda em seu interior era toda negra com uma luz permitindo ver o palco com um cenário familiar de uma sala com sofás e ao fundo uma porta que nitidamente dava a entender tratar-se de um banheiro. As luzes apagando-se iniciava o espetáculo, com uma música suave acompanhada da voz de um locutor que me lembrou Gil Gomes. De início, enquanto o locutor apresentava Jrmir, encontrado numa selvagem cidade de pedra, em que as pessoas viviam se degradiando para ver quem podia mais, quem tinha mais, quem mais proveito tirava até de situações as mais banais. Jrmir em cena aparentava um sujeito comum, deste que ao domingo vai à missa ou a culto da palavra, joga bola com amigos, toma umas cervejas e torce, no fim de tarde, pelo seu time, acompanhando o jogo pela televisão. O espetáculo começa a ficar tenso, quando o locutor pausa e como se assistíssemos televisão com Jrmir, ouvíssemos o apresentador anunciar: “Boa noite, o Show da Vida está no ar!” Tudo se escurece e a porta ao fundo, aquela que indica um banheiro se abre, e notamos que Jrmir por ela se perde. A narrativa, se torna tensa, a música assume um compasso de filme de suspense. O locutor anuncia, aterrorizado: “Meu Deus, Jrmir se transformou na fera”. Foi um pandemônio, o ar empesteou-se de gás de pimenta, tiros de borracha cruzavam o apertado espaço da tenda, luzes frenéticas e sirenes ensurdecedoras aumentavam o clima de insegurança e terror.  Pessoas corriam desorientadas para fora da tenda. Jrmir estava apenas vestido de farda.

 

 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

ALI QUE ME VEJO

                                                                                                                         por Dhyne Paiva

 A madrugada gélida
novamente me abriga.
Nem mesmo vagando só
... consigo me encontrar.
Não me reconheço.

Encontro-me no fundo
dos seus belos olhos castanhos.
Neles vejo a pessoa
que você tanto ama.
É ali que me vejo.

Encontro-me no seu sorriso.
Naquele sorriso tímido
que você solta quando te elogio.
Nele vejo a resposta das minhas perguntas.
É ali que me vejo.

Encontro-me nos seus braços.
Naqueles abraços de proteção
que você me dá
quando meu olhar muda.
Neles vejo meu lar.
É ali que me vejo.

Encontro-me nos seus lábios.
Naqueles lábios que me dizem
as palavras mais doces.
Naqueles lábios que me concedem
os melhores beijos.
Nestes lábios vejo meu refúgio.
É ali que me vejo.

 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Conclusões de Amethista


Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. (Fernando Pessoa)

Na noite anterior ao corrente caso eu tomava cerveja e comia um bom petisco na companhia de Adalberto Soares, Camila Antunes e Jhoana Medeiros. Foi Camila que levantou a discussão citando o Pessoa: “o que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu soubesse pensaria nisso” ... “O que pensa você sobre morrer de amor?” Perguntou a mim e ao Adalberto.  “O amor”, parafraseando o Pessoa, disse Adalberto: “o amor é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquista-lo. E a morte é a conclusão de tudo.” Jhoana Medeiros abriu-lhe um sorriso invejável. Queria eu receber um tal sorriso... Na manhã do corrente caso acordei com o sorriso desejado a meu canto. Senti-me a melhor pessoa do mundo, levantei, tomei uma ducha, vesti-me e preparei o café. Jhoana levantou-se procurando suas peças intimas espalhadas pelo quarto.   Entrou no banheiro e tomou um demorado banho... “Você é o máximo”, beijou-me os lábios untando-os de batom e abriu aquele sorriso. “Pra mim”, disse-lhe, “morrer agora, quando o amor apenas aflora, seria perfeito” ... Por um instante os sentidos se me esvaíram, apaguei como uma vela ao sopro. Foi amor súbito: “Sinto uma alegria enorme/ Ao pensar que minha morte não tem importância nenhuma”