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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Carta à Jovem Poetiza




São Paulo, Outono de 200__

 
Sophia, desculpe a ausência, estive distante do pergaminho, a tinta do tinteiro havia acabado e, a pena, a qual relatava os acontecimentos, já não deslizava com a eficiência de antes. Não tive coragem o bastante de utilizar de outro meio para escrever-te. Sinto-me sufocado pela tecnologia. Mesmo ciente da comodidade, não quisera perder a essência de mergulhar a pena no tinteiro, deslizá-la sobre o pergaminho e de conviver com os borrões.


Minha menina, todavia, percebo que o composto da nova tinta foi alterado e, as penas são superficiais. O homem não foi digno da reprodução da fórmula, interveio com outros ingredientes, descaracterizando a fragrância do composto, introduzindo a humanidade num celeiro de ilusões, rompimentos, tragédias e dores.


A essência se perdera!


Escrevo-te para confirmar o que já prevíamos: a magia voltara ao poderio dos deuses e o pacto entre o homem e os deuses fora rompido.


A essência não mais existe!


A fixação pela busca da satisfação material, levara o homem á perda de seu equilíbrio, sua identidade; sua liberdade...


Hoje, em pleno século vinte e um, colhemos o fruto de um desejo impensado. Uma crise existencial avassaladora tomou conta de nosso povo. Continuamos a nos questionar sobre quem somos, de onde viemos e do nosso papel neste planeta. Posicionamo-nos como falsários, dizendo amor ao próximo sem nunca tê-lo sentido, jurando lealdade, quando corruptíveis, declarando guerra em nome da Paz. Delegamos nosso destino a outros, renegando a nós mesmos. Buscamos no mundo exterior compensação para todas as nossas fraquezas, sem nos darmos conta de que o elixir para todos os nossos males, nossas dúvidas e felicidade permanece intacto em nosso âmago.


Em meio a uma multidão, nos sentimos vazios; carregamos conosco o fardo das amarras da solidão, com a certeza de uma amanhã sem perspectiva de presente.


A essência foi mascarada, e, a frase de Sócrates: “Conheça te a ti Mesmo”, esta cada vez mais difícil de ser compreendida.


Um câncer que se alojara de mansinho, tomara nosso espírito, nos conduzindo a uma guerra trágica, de um exército uno, com a difícil missão de alcançar a Paz.


Olho nos olhos da maioria dos seres que cruzo pelas ruas e percebo nitidamente que as necessidades básicas destes pobres, não


estão sendo sanadas. Seus membros são debilitados dia após dia,, por uma arma dourada que ofusca os olhos de tanto brilho e, aguça o querer: o OURO.


A sociedade permanece submersa, há séculos, por um sistema crucial, onde o capital compra–se vidas.


Temo pelo suicídio em massa e, com a descrença no Criador, a rendição destes seres ao número da “Besta”.


A humanidade está desolada! Vejo que os combatentes de outrora se aliaram a outros, os quais estão longe de terem o mesmo comprometimento com a causa.


Minha Pequena, entretanto, sigo mantendo a crença na utopia de que poderemos reatar a aliança com os deuses e reaver a essência. Com panfletos, spray, alto-falantes e flores, adentro na noite, causando alarde na Cidade Grande, contrariando o silêncio tão desejado pela burguesia... Em busca dos nossos, percebo que alguns corpos adormecidos se levantam e, me seguem, porém ao longe imagens carictas marcham em nossa direçao...


...Minha doce... a tinta... está a falhar, temo que os nossos recuem...


Na esperança de vê-la em breve, sigo confiante em meu trajeto, com uma rosa nas mãos, símbolo do meu maior desejo.


Beijos e até breve!

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