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terça-feira, 20 de setembro de 2011

“À noite todo gato é pardo”

Noite de domingo. Por volta da vigésima terceira hora... Ruas e vielas escuras, solitárias. Vez ou outra um veiculo qualquer passava mim – eu caminhava lentamente, já eles... Clima morno, ameno, em meu rosto escorria gota fria de suor. Entre a respiração já quase ofegante e o cansaço começando a tomar conta das câimbras da perna eu o vi: sujeito encapuzado, blusão preto ou azul, calças Jeans, tênis. Viramos a esquina praticamente juntos. Ele vinha pela esquerda enquanto eu, pelo outro lado da rua diminuía - ainda mais, meus passos... A figura que vi por entre as sombras da noite na fresta de uma luz padrão que incidia sobre sua cabeça – que não se podia ver, já que está encoberta pelo capuz, me amedrontou. Por um instante imaginei hipóteses não muito agradáveis para uma noite domingo. Mantive calma. Continuei caminhando sorrateiramente, como quem escala uma montanha rochosa, passo atrás de passo – observando de forma analítica o sujeito, que a esta altura está à coisa de cinco ou seis metros adiante de mim... De repente, ele pára. Eu paro. Ele finge amarrar os cadarços do tênis. Inclina um pouco a cabeça para baixo e para o lado e de canto de olho me fita. Eu, disfarçadamente enceno cansaço - Augura. O suor frio continua descendo pelo rosto e recheando minha camisa. Ele volta a caminhar, agora muito mais devagar, mais “leve”, como quem diz: “Estou cumprindo minha missão, estou me saindo bem.” [...] As hipóteses em minha cabeça começam a se tornar cada vez mais frondosas e assustadoras. Neste ponto, já pensei e repensei uma porção de rotas de fuga, números telefônicos, golpes que karatê que aprendi na televisão... Estava pronto a colocar a prova meu instinto de sobrevivência. Nunca vi o sujeito. Por questão de segundos, continuaria sem ver – teria virado a esquina e seguido meu rumo normalmente até apontar o portão de casa... Com medo diminuí o passo para manter distancia, ele também diminuiu o dele, o safado até fingiu amarrar cadarço... Eu fingi cansaço, mas no meu caso foi mecanismo de defesa. Eu simplesmente querendo chegar em casa estou prestes... – Ele mete a mão direita no bolso, parece procurar alguma coisa meio desconfiado – rapidamente. Esperando... Quase parando, ouço um som comum – chaves. O rapaz saca do bolso um molho enorme de chaves barulhentas em um chaveiro barato comprado numa loja ‘chinesa’... Ele atravessa a rua, mira um portão esverdeado, escolhe uma das inúmeras chaves e enfia num cadeado grosso que circunda a fechadura – meia volta e a trava se abre revelando uma segunda grade de ferro, complementar ao portão principal. Ele arranca mais uma das chaves - dessa vez maior, roliça; olha para o lado por detrás dos ombros e finalmente entra – não antes de assegurar que as travas voltaram a seu estado inicial... Pude ver esta cena, pois ainda estava alguns metros atrás do sujeito... — em Próximo a Mogi das Cruzes

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