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sábado, 3 de setembro de 2011

EU O PEDADOGO E TALES

EU O PEDAGOGO E TALES

Estou eu falando novamente com a televisão. A reporte apresenta a matéria: “Meninos em condição de rua provocam tumulto em área nobre da cidade”. Enquanto narra a situação de crianças entre sete e doze anos morando embaixo de pontes e marquises, o operador de câmara captura imagens de duas meninas, pés no chão, revirando lixo. Lembro-me de um poema do Bandeira. A reporte coleta duas ou três entrevista, as crianças ficam ao fundo, num truque de imagem, elas parecem muito distante de distintas pessoas. “Estamos assustados, nos sentimos ameaçados”, dizem. O ancora do telejornal intervém e apresenta um especialista, pedagogo, que explica o que precisa ser feito. O sujeito infla o peito, enche a boca e a solução sai fácil, como algo ainda não pensado e ficamos então com esta expressão na cara: “como não tínhamos pensado nisto antes”. A solução é simples: “Precisa tornar a escola mais atraente, uma escola que cative e motive o aluno, o faria gostar de estar nela e não na rua”. Penso em Leopoldo - por onde será que ele anda? - que costuma dizer-me. “Como diz um pensador Russo: Se não queres resolver um problema, jogue-o para a escola! A Escola é este grande tapete da sociedade”. Deu-me vontade de entrar na televisão e dizer isto ao sábio guru. Creio que se perguntasse a um pastor ele diria com a mesma leviandade que o problema destes meninos e meninas é o dizimo: “devemos motivá-los a pagar o dízimo, Deus abençoará suas famílias e irá operar milagres em suas vidas!” Mas voltemos a meu dialogo com o pedagogo que nem no ar esta mais. Agora se fala da deputada absolvida em Brasília – vamos mandar os deputados para escola também? Mas o meu problema é com o pedagogo e digo-lhe: “Caro pedagogo, nem que a escola fosse o Mundo Mágico da Xuxa, estas crianças estariam lá, porque elas não abandonaram a escola, são elas que estão abandonadas desde que nasceram. Aos sete anos elas deveriam estar entrando na escola apoiadas pela mão da mãe, do pai. Mas não, aos sete anos elas estão sós embaixo de pontes e tendo que lidar com a própria subsistência. Temos que tornar a escola mais atraente o caralho! A escola não pode substituir o papel da família, mas estas crianças não têm famílias, foram paridas por bichos, aqueles do poema! Mas é preciso entender o poema para entender porque são bichos. Isto dá trabalho e leva tempo. Na televisão as soluções têm que ser fáceis e rápidas, porque vai começar a novela, onde o menino pobre é acolhido, alimentado, vestido e se tornará no último capítulo o presidente das empresas.” Como o pedagogo não me ouve, faço o discurso pro Tales que olha pra mim e solta um sonoro: “Bobo!”. É isto ai, a televisão nos torna bobos! Eu insisto em conversar com ela!

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