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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ai se eu te pego

Parece-me que a pegada esta semana é um certo Michel Teló, classificado por uma revista de circulação nacional como “tradutor de nossos valores culturais”. Eu ainda não me ative a ouvir o tal sujeito, sei apenas que sua música é classificada como Sertanejo Universitário. Neste sentido quero pontuar alguns mestres do Sertanejo que deveriam ser visitados antes de se nomear o mancebo tradutor de nossos valores culturais. Mesmo porque a música é um elemento entre tantos a ser considerado quando se trata de Cultura. Ela é apenas um aspecto de uma cultura, e não abarca, de maneira alguma, todos os seus valores. Então, seria de se perguntar: “quais valores a música de Michel Teló traduz? Esses valores são específicos de um segmento ou permeia o conjunto da sociedade? Para isto, eu deveria dedicar-me um pouco mais a fundo a sua produção musical e não apenas ao hit do momento. No entanto, tenho coisas menos importante, mas mais prazerosas a fazer: Vou ir construir castelos de areia com meus filhos. Não deixo de citar, porém, que Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Mato Grosso e Mathias, Milionário e José Rico, estes são nomes que me vêm em mente agora, têm composições magistrais que representam mais profundamente o imaginário simbólico do sertanejo urbano e rural, que esta batidinha que meu filho de dois anos repete a exaustão.  Se ampliarmos o leque e considerarmos a música de modo geral, passando pelo popular e pelo regional: Pixiguinha, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Milton Nascimento, Sá e Guarabira, Belchior, Elis Regina, Chico Buarque, Ton Jobim, Lenine, Zeca Baleiro, Cazuza, Renato Russo, Chico Science, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Renato Teixeira, estes são os que eu, particularmente, freqüento, mas poderia citar outros trezentos nomes, são muito mais representativos da produção musical brasileira, que este rapaz. O fato de uma sua música, ou refrão dela, estar na boca de meus filhos de seis e dois anos que a repetem a exaustão assim como na cachola de alguma socialite ou figurão global não o tornam tradutor, de modo algum, de nossa cultura. Expressa sim o interesse de alguns segmentos, que é legitimo, visto que o seu produto é também mercadoria. Michel Teló é, na verdade, mais um fenômeno musical. Já tivemos outros: Claudinho e Buchecha, os Mamonas Assassinas, até ontem um tal Fiuk, por exemplo. Por fenômenos me interesso apenas pelos naturais que me causam estranheza e fascínio. Estes produzidos pela industria do espetáculo pouco me atraem. Mas por mim: deixem o menino cantar já que tem quem goste. Agora quem o colocou como tradutor dos valores de nossa cultura, ao invés de estar apenas a ouvir Sertanejo Universitário, deveria voltar a freqüentar os bancos da Universidade. Em especial, a cadeira de Antropologia Social. Então irá saber que nossos valores são muito mais complexos que se imagina e não cabem numa simples "banalidade musical", por mais sucesso que essa faça.

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