Para
Jaqueline Rogério Borges
As crianças correm ao redor do lago. Acompanho o mergulho do pato atrás
da migalha arremessada-lhe. Formigas carregam folhas. Não há canto de cigarras
a acompanha-lhes a faina. Não, não há faina para as formigas. O pato não irá
tornar-se o mais lindo Cisne. Arremesse a galinha de um despenhadeiro e ela não
irá ganhar o céu, como águia criada no galinheiro. A lagarta sim não é lagarta,
e sobe o tronco para encasular-se. Mas a árvore antes de ser árvore fora
semente, broto,... A lagarta é semente de borboleta e dela não sairá um
rouxinol, como este que pousa ante meus olhos. A lagarta é borboleta, sendo
lagarta, como a criança que se forma no ventre desta jovem que me sorri é já
homem ou mulher, no feto que é. Ser ou não ser não é a questão. Ser sendo,
já-ainda não, é uma condição DNIastica. O escritor é está metáfora,
cumprindo-se, negando-se, resistindo e tornando-se, na resistência, aquilo a
que resite. Escritores não se produzem, como se produz carros e
eletrodomésticos, escritores, como formigas, nascem escritores, e como cigarras
não podem deixar de se arrebentarem, no que achamos ser-lhe canto, escritores
hibernam, encasulam-se, enfiam a cabeça no buraco, ou nas nuvens, aninham-se,
refugiam-se, na segurança tediosa do escritório, do serviço burocrático, do
receio do “que irão dizer se eu não for hoje”, mas não escapam ao que são: E
ESCREVEM. Como crianças correm em torno do lago.
... Não há bom senso, não há ameaça de fome, não há carro velho, não há
cobrador batendo em sua porta, não há empobrecimento de sua vida... Não há nada
que possa te tirar do fato de você ser vitima de suas próprias ideias... Tom Zé
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