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sábado, 23 de junho de 2012

O Andarilho


Por MARCO MAIDA:
http://luisclaudiopt.blogspot.com.br/2012/06/papocom-marco-maida.html?spref=fb
Por um tratado sobre a impossibilidade da redenção
Condenados. É a condição de necessidade para qualquer pessoa. Nem todos são conscientes, mas são condenados. Impossível não sê-lo.
Condenados a ex-istir. Essa é a pior prisão, estar fora de si.
Pretendendo ser real, acreditamos que a coexistência nos co-loca em condição adequada. Percebemo-nos desde ai como sendo moradores de um lugar que já não é mais um si mesmo, mas outro. Fora de si é onde devemos morar; ex-sistir. Somos condenados, desde a condição de animais políticos a nos permitir ex-genia. A prisão que nega a cada um porque o outro é a referencia. Vejam, as pessoas andam e falam como se tivessem certeza de se comunicar. Impossível a comunicação. Reverberamos coisas para nos fazer acreditar ainda uma vez que a totalidade do real só pode nos permitir quando negamos, quando nos negamos. Não sou em absoluto, e sou condenado a não ser, para permitir a emergência do Outro, com um rosto que eu não reconheço, uma vida que não decidi ter, mas que me é oferecida como dom, como a minha verdade. Minha ex-sistencia Condenado em absoluto.
Não há redenção. Nenhuma força é possível para me a-locar de volta. Não há retorno. Por tanto que se suplique a volta do redentor, ele não vem, ..., ele não vem, ... e não deve vir mesmo, pois se vir nos impedira ainda uma vez de voltar para dentro, porque nos julgara pelos nossos atos usando as suas leis. Uma vez me disseram que o redentor já tinha vindo, e morreu na cruz para salvar as pessoas. Não entendi; se alguém tem que morrer esse alguém sou eu. Porque outra pessoa o faria em meu lugar?
Condenados ao exílio da única pátria, de nosso corpo, precisamos sair, precisamos encontrar as outras pessoas. E para isso é impossível ser sem ser aquilo que nos é determinado.
A flutuação do Mercado, e as suas imprevisibilidades não tem condição de representar o inframundo, os dois oscilam e são imprevisíveis, mas não de forma simétrica possibilitando analogia imediata, ..., não, não somos mercado oscilante, somos interioridade incomunicacional. Não somos Nec-ocio, mas ócio.
Certa feita percebi que um sociólogo defendia a redenção do trabalho: “o trabalho é bom, a Revolução industrial é que não conseguiu dar conta de um trabalho humanizado. Mas hoje, seres históricos que somos, conseguimos considerar aspectos redentores do processo de criação humana, e devolver ao ser humano o que lhe é mais precioso, a capacidade de criar.” Obtuso! Não percebe que ele é mais um dos que foi cooptado pela grande massa e acredita que é na ex-pressão que o ser humano se realiza. Não, só nos realizamos na in-trospecção, na ausência de expressão. Somos anteriores a linguagem, a verdade, a religião, a política, não somos nada disso que os artistas expressam com a sua técnica; maldito polegar opositor!
Não me senti minimamente tentado a ser profeta da ausência de redenção. Sabe essa história meio Zaratustra que sai em busca de Deus com o lampião aceso com o sol em pico; pois então, para alguns isso funcionou algum dia, anunciar o fim das grandes narrativas e das arquiteturas mundo firmadas como a apoteose universal. Mas as grandes narrativas continuarão a existir por mais que Zaratustra continue gritando.
Somos condenados a não ser nós mesmos e nenhum recurso é capaz de nos redimir.
Marco Maida é professor de filosofia, integrante da Associação Cultural Rastilho (A_CURA), mestrando na Faculdade de Educação da USP, autor do livro Memórias de Onã.
                                                                                                           

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