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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PAREIDOLIA

Chego em casa encasquetado, abro a porta, premo o interruptor, a luz da sala acende, entro, fecho a porta, deixo a bolsa e os diários sobre a mesa de centro, vou a cozinha mexo nas panelas sobre o fogão, belisco um pedaço de frango frito, abro a geladeira pego uma cerveja, vou ao quarto dos meninos: dormem e estão cobertos. Ana está no nosso quarto arrumando uns papéis. Dou-lhe um beijo formal, volto pra cozinha, belisco outro pedaço de frango, abro a cerveja, vou pra sala, ligo a TV, adormeço... Acordo no meio da noite; desligo a TV, vou pra cama. Ana dorme... Uma aluna aproximou de mim: “professor, o que tenho que fazer, pra eu passar de ano?”. “Entregue as atividades como foram pedidas!”, respondi seco! “E se eu...”, pegando-me pelo braço. Senti o calor de seu corpo, o cheiro de sua pele, a maciez de sua mão, o leve toque dos seios. “Entregue as atividades como foram pedidas”... O sono não vinha, devia ter ficado na sala. Corro os olhos pelo escuro quarto. Um ponto de luz numa fresta do telhado atrai meu olhar. O brilho avoluma-se, torna-se clarão. Uma figura de mulher serpenteia ante meus olhos. Pele morena, rosto redondo, lábios carnudos, olhos brilhando esverdeados, cabelos curtos... Sorri-me: “o Sr me quer?” baixando uma das alças do vestido, é estampado florido, não sei dizer de que estopa. “O Sr me quer?”, baixou a outra alça deixando os seios nus... Almerinda! Almerinda! Alm... Trimmmmmmm... Levanto, tomo banho, visto a roupa, tomo café... Beijo Ana, as crianças, pego a bolsa os diários, abro a porta, saio... “Guilherme, onde cê vai a está hora, homem?” “Pra escola e estou atrasado”. “Hoje é sábado, homem, volta pra cama e dorme!”

Um comentário:

  1. Gosto quando o Claudio propõe a oscilação das referencias de realidade: quando o tempo passa a ser irrelevante, o fantasma visita sem a pretensão de assustar, a rotina pode conviver com o fantástico sem que essa tensão fomente a síntese, convivem em tensão e promovem o irônico: esse, para mim é o fundo, o mais fundo do texto - o seu carater ironico: "Onde cê vai homem? ..."
    Viva Claudio!

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