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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

VARA DE MARMELO

Em casa tinha uma vara de marmelo. Minha mãe nunca a usou em mim. Na verdade ela foi usada uma única vez no lombo de meu irmão, o do meio, que era o mais levado de todos. Ele entrou no quintal da vizinha, pegou lá um brinquedinho e trouxe pra casa. Mãe perguntou de quem era o brinquedinho ele disse que o menino da vinha dera pra ele. Mãe foi perguntar pra vizinha... Foram duas pancadinhas apenas... Aquela fora a primeira e única vez que mãe dera em um filho. Em meu irmão as pancadinhas surtiram pouco efeito, pois ele continuou aparecendo em casa com objetos “achados” ou “ganhados”. Em mim, ainda nas fraldas, o efeito foi devastador. O dissimulado choro de meu irmão imprimiu-se em mim. Bastava mãe dizer: “menino!”, que eu me encolhia todo e se ia subir, descia; se ia correr, andava; se ia falar, calava. A irmã mais velha aproveitava disto: “vou contar pra mãe”, e estava eu a fazer suas vontades. O caçula também aproveitava: “mãeee...” e eu me rendia a seus caprichos... Quando, na escola, a professora anunciava: “vou chamar a mãe de vocês aqui!”, eu me borrava todo, e me borrava literalmente... Passei muito constrangimento, deixei de me aventurar em muitas coisas com receio da vara de marmelo, que, na verdade, deixou de existir logo depois das pancadinhas em meu irmão. Mas estes dias cheguei em casa e minha companheira veio-me com uma novidade: vestida em couro, rasgou-me a roupa, jogou-me ao chão, virou-me abruptamente de costas... “bate mais querida, ahhh! Bate mais...”  

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