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quarta-feira, 2 de maio de 2012
A Lei de Newton
Abro
os olhos e incauto percebo que as coisas se mantêm em ordem. As leis que as
regem se mantêm. O copo cheio pela metade, não se esvaziou por todo: não pode!
O liquido que o preenche pela metade não se avoluma e o transborda: não pode. O relógio marca as horas e avisa-me o correr
do tempo. E tenho pouco tempo, alguns minutos
apenas. Sento-me e levando os pés ao chão tateio-o buscando os chinelos no
exato lugar em que os deixo todas as noites. Ligo a rádio e o locutor informa
que é feriado e haverá sol: “A chuva parece ter dado um tempo, para quem vai
curtir o feriado, o dia será de sol”... segue a canção...: “a sensação do
momento...”. Alcanço com os pés os chinelos, calço-os e levanto-me. Abro a
janela e a brisa fria da manhã invade o quarto, arrepia o corpo. Esta tudo em
ordem, nada foi revogado. A natureza mantém suas regras... Tomo o copo verso o
liquido que o preenche pela metade no ralo da pia. O liquido como se deve
esperar escorre para baixo e aos poucos some ante meus olhos. Lavo o copo e o
encho de água. Verso a água na cafeteira, coloco-lhe também o filtro e o café.
Ligo-a, sua luz ascende e em segundos seu rumor característico me informa que
está tudo em ordem. O relógio não para,
o tempo escorre e não o vemos. Tenho pouco tempo, tempo de tomar correndo um
café. Visto-me às presas, tomo de uma golada só o café, desço as escadas
correndo, por pouco perco o ônibus. Esbaforido sento-me e respiro aliviado.
Afora o feriado, que trás um pouco de tranquilidade à cidade, nada está fora do
lugar: “terá desfile, pronunciamentos, programas especiais, sorteio de brindes,
manifestações...”. “Na noite passada”, leio de relance no jornal de um
cavalheiro, “a polícia encontrou mais um corpo de mulher esquartejada próximo
ao Parque das Nações. Segundo informou o delegado responsável pelo caso, ela
tinha tatuado no corpo a lei de Newton: “Dois corpos não cabem no mesmo espaço”.
É o quarto corpo encontrado nos últimos vinte dias com tatuagens similares. A
polícia suspeita...”. Não consegui ler mais nada. Só ouvi o murmúrio do
cavalheiro: “este mundo está perdido. Só Deus o pode salvar...” Levo a mão ao
bolso, encontro a caneta e o bloco de anotações: “A energia não pode ser criada nem destruída: a energia pode apenas transformar-se”,
anoto. Tiro do bolso o canivete e brinco com ele.
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