A
maior atração do parque era o incrível homem Mongo. A fila para ver o espetáculo
da transformação do pacato Jrmir em uma fera, não tinha fim. Um cartaz enorme à
entrada da tenda do Mongo advertia cardíacos e congêneres da não indicação
médica para o gênero de diversão. Era vetado também para crianças e mulheres
grávidas. Eu aproveitei o descuido do segurança, que espichou os olhos para o
decote da morena, e a foi acompanhando com o alhar. Entrei de surdina. Por isso
não tive direito à minha porção de vinagre. A tenda em seu interior era toda negra com uma
luz permitindo ver o palco com um cenário familiar de uma sala com sofás e ao
fundo uma porta que nitidamente dava a entender tratar-se de um banheiro. As
luzes apagando-se iniciava o espetáculo, com uma música suave acompanhada da
voz de um locutor que me lembrou Gil Gomes. De início, enquanto o locutor
apresentava Jrmir, encontrado numa selvagem cidade de pedra, em que as pessoas
viviam se degradiando para ver quem podia mais, quem tinha mais, quem mais
proveito tirava até de situações as mais banais. Jrmir em cena aparentava um
sujeito comum, deste que ao domingo vai à missa ou a culto da palavra, joga
bola com amigos, toma umas cervejas e torce, no fim de tarde, pelo seu time,
acompanhando o jogo pela televisão. O espetáculo começa a ficar tenso, quando o
locutor pausa e como se assistíssemos televisão com Jrmir, ouvíssemos o
apresentador anunciar: “Boa noite, o Show da Vida está no ar!” Tudo se escurece
e a porta ao fundo, aquela que indica um banheiro se abre, e notamos que Jrmir
por ela se perde. A narrativa, se torna tensa, a música assume um compasso de
filme de suspense. O locutor anuncia, aterrorizado: “Meu Deus, Jrmir se
transformou na fera”. Foi um pandemônio, o ar empesteou-se de gás de pimenta,
tiros de borracha cruzavam o apertado espaço da tenda, luzes frenéticas e
sirenes ensurdecedoras aumentavam o clima de insegurança e terror. Pessoas corriam desorientadas para fora da
tenda. Jrmir estava apenas vestido de farda.
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