Estava por terminar o expediente. O telefone tocou.
Uma ocorrência no bairro nobre. Suicídio!?.
Quando
cheguei à cena, o local já estava devidamente isolado e meu parceiro logo
passou-me as primeiras informações: “o porteiro disse que ela chegou por volta
das 22h, parecia animada, cumprimentou-o e subiu. Disse também que quem a
deixou na portaria foi uma amiga de nome..., que estamos verificando”. Entrei
no apartamento. Sombrio, mas tudo muito bem organizado e limpo. Fui direto ao
quarto. Sob a cama, arrumada em lençóis de cetim, sai de filó, blusa de
rendinha, sutiã e calcinha de oncinha, os sapatos de fivela. “Parece que ela
estava se preparando para sair”, observei. Sobre o criado mudo um belo anel de
ametista, brincos artesanais, um bloco de anotações. “Tudo indica”, continuava
meu parceiro, “morte por envenenamento”, indicando-me a lata de inseticida, a
taça de champagne. “O corpo?”, perguntei. “Ali”, apontou-me o banheiro.
Pareceu-me uma filial da Avon. Na banheira de hidromassagem, o livro boiava e
entre suas paginas o corpo nu. “Ela tinha pés cascudos”, observou meu parceiro.
“Inspetor, conseguimos contatar a amiga”, avisou um policial. Ela está subindo.
Pedi a meu parceiro que a interrogasse. “A amiga disse”, voltando minutos
depois, “que ela estava de namoro com um certo Kafka”. “Não foi suicídio!” Disse categórico. “Como
assim?”, indagou meu parceiro. “Veja as marcas entre as paginas 45 e 46, ela
foi violentamente prensada...”.
...
“Alguém deve ter caluniado Josef k., porque, sem que tenha feito nada de mal,
uma manhã foi preso...”
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