“Tenho minha própria história...”. Lidhia desceu ao
ateliê e desejou-me como um presente, e esculpiu-me incontida, frenética,
febril, alucinada. Lidhia gravou em mim versos de um poema, dando-me uma sina: “Desejar
e realizar são duas coisas diferentes. E chega o momento em que devemos decidir:
assumir uma vida de felicidade ou uma vida com um propósito. São dois caminhos
bem diferentes. Para ser realmente feliz um homem tem que viver absolutamente o
presente, sem pensar naquilo que já foi ou naquilo que virá. Para uma vida de
significado, o homem está condenado a viver afundado no passado e se obsecar
com o futuro.” Lidhia sumiu no meio da noite, deixando-me sobre a mesa
sustentando um bilhete: “tenho minha própria história, e ela nasce hoje quando
tomo em minhas mãos meu destino com todas as suas incertezas, jogo-me em suas
águas sem saber se alcanço o oceano. Não posso mais deixar que as águas passem ...”. Ele me trás em seu bolso,
está pronto para receber o prêmio da Academia. Também no bolso o discurso que
fará: “Minha história começou no dia em que Lidhia beijou-me e partiu,
deixando-me um presente que ela mesma confeccionou, naquela noite eu decidi que
daria significado à minha vida, entraria nas águas do destino, mas não à deriva.
Lidhia me tinha deixado uma bussola e eu sabia, mesmo titubeando, onde queria
chegar...”. Durante o discurso encontrou os olhos marejados de Lidhia na
terceira fileira, a voz embargou, os olhos também marejaram, um silêncio longo
tomou conta do auditório que explodiu em aplausos. Lidhia desapareceu, entre os
convivas. Ele segurou-me com toda energia e convicção: “Lidhia nunca me
abandonara”.
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