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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

IM MEMÓRIA

Oriel Santos


Naquela noite, estávamos estrategicamente a postos, preparados a qualquer sinal de confronto com armas em punho, olhar atento e coração acelerado, causando-nos uma respiração ofegante e suor gelado. O pavor era nítido, mas o amor pela pátria era ainda maior, e o responsável por nos manter ali, naquele lugar desconhecido e sombrio. O silêncio da noite era interrompido pelo barulho dos pássaros e animais terrestres, quebrando gravetos no peito. Se eu fosse relatar de fato o que sentia neste instante era uma vontade grande de retornar ao meu lar, à companhia de meus amigos, ao abraço de minha família e ao beijo de minha namorada. Mas a minha patente e a minha honra me impediam de retornar de forma covarde, ao meu entendimento. Um filme, uma história, se passava em minha mente. O meu filme, a minha história de vida. Enquanto permanecíamos estáticos, movimentávamos apenas os olhares por todos os lados, com os dedos roçando no gatilho. É neste instante que o céu vai aos poucos ficando nebuloso, com nuvens negras cobrindo tudo, ameaçando desabar sobre nós uma grande tempestade com direito a raios e trovões. Não demorou muito para que isso acontecesse, e então fomos ficando encharcados com toda a água que vinha das nuvens impiedosas. Antes de ser um soldado, uma chuva desse nível me colocaria para correr, mas na condição de soldado essa ação era impossível. Eu sentia a água da chuva escorrendo em meu corpo todo, arrepiando meus pelos e congelando os meus ossos. E foi nesse preciso momento que um grito de dor de um soldado do meu batalhão desperta a nossa atenção, no momento que era picado por uma cobra muito venenosa, que não dera a ele a chance mínima de vida. Esse grito serve de referencia para os nossos inimigos, que sorrateiramente caminhavam em nossa direção, e que não perdem um segundo para dispararem contra nós a munição de suas metralhadoras. Nós revidamos a altura, sem dó, nem piedade. Dava para ouvir e ver na penumbra da noite o estalo das armas e a faísca dos projeteis se encontrando no ar a poucos metros de nossas cabeças. Em meio a isso vejo corpos de jovens soldados abraçando o chão, uns gritando de dor, outros sem tempo de gritar, de sentirem alguma coisa. Essa cena de horror banhava de sangue o verde da mata, e me enchia de ódio, ainda mais quando o sangue derramado era de um grande amigo conquistado no campo de batalha. Nada mais me vinha a mente, apenas uma vontade brutal de descarregar toda a minha munição contra aqueles inimigos de batalha. Todos os meus sentidos se aguçavam numa fração de segundos sem tirar o dedo do gatilho e gritando muito de ódio, fuzilava aquele que apontava para mim sua arma. De repente não vejo mais nada. Não sinto mais nada. Um silêncio misterioso toma conta de mim e numa fração de segundos me vejo coberto de sangue que escorria do meu peito, me tirando a vida para sempre, causado por um tiro certeiro de alguém que sentia o mesmo ódio no coração. Descarregando o que sentia de ódio em meu peito. Do que adianta agora uma placa de honra ao mérito no meu tumulo? Do que adianta agora uma medalha pendurada na parede da casa de meus pais? Do que adianta agora um discurso em publico para um país, destacando a minha bravura? Se o mais importante de mim foi tirado, a minha própria vida, por uma causa que eu acreditava, mas que só os poderosos tinham a verdadeira resposta, da causa e do efeito

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