Ser
em si, é ser e não ser! (Rodner Lúcio)
Masturbava-se
beijando Hannah, pensando ser uma mulher normal, uma mulher que trabalha e ama
seu marido e seus filhos... Massageava em ritmo frenético o clitóris; “eu
queria que fosse bem peluda", dizia-lhe Hannah. O espelho não lhe mostrava
o que queria ver. Teve sempre a impressão de não ser. O marido os dois filhos, Hannah
eram projeções do que não era. Não sabia o que era ser. O pai levava-a com ele
às missas de domingo e depois ao campo de futebol. Os homens se trocavam à
beira do campo falando besteiras. Não tinha nada a ver com o mundo do pai. A
mãe passava a tarde toda diante do espelho procurando rugas e cabelos brancos. Hannah
era o seu anverso, "para definir a personalidade animalesca que ela tem. É
uma mulher que não está aí para noções de propriedade; o negócio dela é consumação."
“Mãe nunca se viu no espelho!” Hannah dizia-lhe que “diante do espelho nos
projetamos, temos uma face que nunca se encontra na vida vivida”. Beijou Hannah
na boca e correu-lhe a língua pelo corpo. Aprofundava-lhe as entranhas o cabo
da escova. Passou a maior parte da vida querendo ser o que esperavam que ela
fosse. O corpo estremeceu. Fez a vida toda o que era certo, cuidou da casa, do
marido, dos filhos... Fechou os olhos e deixou a água do chuveiro escorrer
sobre o corpo relaxado. Hannah sorria-lhe. Era apenas uma mulher normal diante
do espelho.