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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sevgilinin Yüzü

"Eu vou me matar! é só uma frase de efeito!", disse Sevgilinin Yüzü, "a morte não transfere responsabilidade"! E pulou. O sol modorrento de inverno apenas beijou-lhe complacente. E os prédios indiferentes mantiveram sua concretude inalterada... No mais o dia terminou como todos os outros. Os que se seguiram silenciaram um ato livre...

domingo, 5 de agosto de 2012

OCO DA TERRA

Eu nasci e vivi longo tempo de minha vida no Oco da Terra, um lugar úmido, sombrio, silencioso. Sons abafados chegavam-nos sem nos dar conta. Flash de luz de quando em quando nos alcançava as vistas.  Em Oco da Terra não havia palavra, apenas murmúrios tão surdos e incompreensíveis quanto os rumores que nos chegavam.  O olhar opaco, lúgubre, vazio era nossa linguagem.  Certa feita um estrangeiro, dizendo-se um dos nossos, desceu a Oco da Terra. Usou gestos e sons que não conhecíamos. Os sons era palavra – hoje eu o sei –,   e  doíam-nos os ouvidos incompreensíveis. Avançamos sobre o estrangeiro que se fazia como um de nós e o matamos. Depois disto, surgiram alguns que diziam ser este Aquele que nos viera apontar um outro mundo, um mundo preparado para nós, para além de Oco da Terra. Um mundo em que os sons abafados tinham sentido, o olhar brilhava invadido de luz.  Era preciso coragem para atravessar as frestas luminosas de Oco da Terra. Muitos haviam tentado depois que o estrangeiro que se dizia um de nós e que matamos nos visitou, nenhum havia voltado. Sem despedir-me dos meus – não me deixariam partir –, esperei o primeiro raio de luz e os primeiros rumores; lancei-me numa fresta.  À medida que avançava os rumores se intensificavam; meus ouvidos doíam, doíam, doíam. A luz, ao contrário, ia atenuando-se, e, a um certo momento, desapareceu. Não fossem os rumores cada vez mais altos, sentir-me-ia em Oco da Terra.  Meus ouvidos doíam, doíam, doíam. Estava decidido, estourassem-me a cabeça, iria até o fim.  Houve duas alternâncias de luzes intensas até seu desaparecimento até chegar a este mundo. Era noite, agora eu sei, quando venci minha jornada. O céu era cinza, e os rumores atenuados. Grilos, sapos, buzinas, risos, vozes, se confundiam a meu grito... Muitas vezes pensei em voltar para Oco da Terra, mas sei que os meus não me reconheceriam e o meu destino seria o mesmo do nosso que visto por estrangeiro o matamos. Aqui aprendi palavra e sei das coisas e dou-lhes nome. O mundo não é sombra e murmúrio: O mundo é discurso. E o discurso nos preenche de sentido, de certezas, de verdades. Em Oco da Terra tudo é o mesmo, e o mesmo é ordem.  Sinto saudades de Oco da Terra, do som abafado que nos chegavam, dos poucos raios de luz entre frestas, de sua umidade, do seu silencioso murmúrio. Sinto falta da sinceridade opaca, lúgubre e vazia do olhar dos meus. Aqui sou estrangeiro, lá, agora seria estrangeiro.  As palavras me encantam, mas estas luzes todas apenas afastam as sombras das coisas não as eliminam de mim. Oco da Terra é em mim. Outro dia me perguntaram: “Que lugar habita em ti?” Oco da Terra habita em mim. Meu grito é murmúrio e a luz de meus olhos opaca, lúgubre e vazia, diz-me: “És Oco, Opaco e Lúgubre. Palavras não te iluminam e preenchem. O silencioso vazio te preenche”. Não sou mais para os meus, a este mundo eu não pertenço. Sou Oco valendo-se de palavras.